Obra reconstrói parte importante da história do país através de cartões-postais e álbuns de lembranças
Roberto Amorim
Estação ferroviária da cidade de Piranhas, Alagoas, 1937. Oleone Coelho Fontes diz: “Corri sofregamente à estação ferroviária a fim de adquirir a minha passagem; e comprei-a com a advertência de que o trem não tinha horário certo, nem de saída, nem de chegada, pois dependia da presença da Volante (contingente policial) para defendê-lo dos possíveis ataques do bando de Lampião, imprevisível nas suas artimanhas (...)”.
O relato do apressado passageiro que precisava usar o trecho alagoano da Estrada de Ferro de Paulo Afonso, inaugurada em 25 de fevereiro de 1881, foi resgatado pela dupla de pesquisadores João Emilio e Carlos Cornejo no livro-documento “As Ferrovias do Brasil nos Cartões Postais e Álbuns de Lembranças”, que foi lançado com o selo de qualidade da Solaris Edições Culturais, também responsável pela publicação da premiada obra “Lembranças do Brasil: As Capitais Brasileiras”.
Os livros da dupla de competentes curiosos da História do Brasil têm a missão de tirar da penumbra do esquecimento importantes capítulos da formação recente da trajetória do país. Dessa forma também surgiram os volumes “Navios e Portos do Brasil” e “Lembranças de São Paulo”.
Os autores ainda revelam que foi um telegrafista da Estação de Piranhas quem utilizou a frase “Tem boi no pasto!”, como código para informar a localização do bando de Lampião na Fazenda Angico, na zona de limite com o vizinho estado de Sergipe. Em 1938, em Piranhas, foram expostas as cabeças do Rei do Cangaço, sua mulher Maria Bonita e boa parte dos homens e mulheres do seu destemido bando.
Boa leitura
Ao lado de textos curtos e informativos, a reprodução de dois cartões-postais da época revel ao cenário da cidade sertaneja no final do século 19. Em um deles, é possível ver a torre do relógio, a estação (hoje Museu do Sertão) e o girador ou virador de locomotiva.
Já Maceió aparece no livro através de imponência do recém-inaugurado prédio da Estação (1884), ponto inicial da Estrada de Ferro Central de Alagoas, que tinha “uma extensão de aproximadamente 150 quilômetros e passava por um total de 23 estações”.
Para recompor a teia das estradas de ferro brasileiras, os autores gastaram dois anos de árdua pesquisa, analisaram centenas de imagens, consultaram mais de 200 obras de referência histórica e conversaram com dezenas de especialistas. Trabalho já experimentado nas empreitadas anteriores, que resultaram em livros da mesma qualidade visual e histórica.
Para eles, o mais importante da publicação é revelar aos leitores testemunhos de uma vasta e quase desconhecida iconografia, retratando aspectos de interesse histórico e documental, num acervo até agora indevidamente preservado e valorizado.
“O apito da locomotiva era, e ainda é, sinal de desenvolvimento. Muitas cidades cresceram em volta das estações de trem, as quais, junto às velhas locomotivas e carros, viadutos e túneis, são importantes patrimônios culturais e fonte de riqueza futura pelo seu potencial turístico. Tudo deveria ser preservado, dando lugar a museus, centros culturais e locais de visitação. Isso é visão de futuro e não de passado”, afirmam.
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