sexta-feira, 10 de outubro de 2008
QUEM SOMOS NÓS?
Por Saulo C Silva
A construção de uma sociedade está nas referências históricas de seu passado, refletidas em seu presente. É assim que se manifesta o conceito de nação e a identidade de um país!
Esse questionamento inicial me leva a perguntar: quem somos e qual o país que pensamos construir e deixar para as novas gerações!
Preocupo-me em propor reflexões a respeito do descaso das autoridades com o transporte ferroviário nacional, pois ele se apresenta como uma metáfora que nos alerta para a relação: presente e passado e sua implicações para o futuro.
O Brasil parece caminhar na contra-mão das tendências atuais de um mundo sustentável, ao menos nesse aspecto. Pode-se dizer isso quando se questiona: por que os Governos não investem ( e não investiram ) no transporte ferroviário de carga e de passageiros de longa distância? Um investimento de peso nesse setor poderia desonerar o Estado, desobrigando-o da manutenção de uma malha rodoviária precária e ineficiente? Não seria o trem menos poluidor e, conseqüentemente, mais “ecológico”?
A vocação continental do território nacional e a manutenção de sua integridade são características que exigem mais do que rodovias mal conservadas e ineficientes! Dados estatísticos apontam números gigantescos que envolvem a perda de vidas humanas e incontáveis prejuízos materiais! A própria produção nacional sofre com os “gargalos” ocasionados pela falta de infra-estrutura, pois o escoamento da produção de grãos, por exemplo, fica prejudicada com a ineficiência do transporte rodoviário.
Pode-se dizer que se o os diferentes governos tivessem ampliado a malha ferroviária nacional e investido no seu crescimento, provavelmente não teríamos esses números assustadores e quem sabe um impulso maior no crescimento da economia. Como exemplo, pode-se citar a Índia que é cortado por ferrovias, tornando-se o trem o principal meio de transporte. De acordo com especialistas, naquele país, há mais de 8.350 trens que percorrem cerca de 80.000 quilômetros, transportando mais de 12,5 milhões de passageiros diariamente.
Mas por aqui as coisas são diferentes! O Brasil, atualmente, tem apenas três linhas de passageiros de longa distância. Só para se ter uma idéia em números, pode-se constatar que em 1996, eram 4,3 milhões de passageiros por ano. Em 2005, foram só 1,5 milhão. Portanto, contam-se nos dedos os trens de passageiros que trafegam pelo país.
O cenário é desolador: linhas desativadas e suprimidas, estações destruídas e abandonadas, relegadas ao esquecimento. O desaparecimento dos trens vai muito além das perdas materiais, pois a sua extinção leva consigo parte de nossa história, do nosso passado e de nossa identidade.
Muitas cidades brasileiras cresceram ao longo das linhas férreas e sua memória está intrinsecamente relacionada com elas. Para exemplificar, pode-se citar o caso da cidade de Limeira, no interior paulista, foi inaugurada em 1872, tornado-se principal pólo de crescimento econômico da região! E hoje? Sem trens, passa por uma reforma para que a sua arquitetura possa ser preservada também na cultura local! Mas nem todas têm esse mesmo destino...
Aqui retomamos nossa preocupação, pois como poderemos compreender o presente de uma sociedade se o seu passado é destruído? Como valorizar o patrimônio cultural do nosso país se nós o abandonamos em detrimento de uma pseudo-modernidade que acarreta mais prejuízos que benefícios?
As respostas ainda são vagas e inconsistentes, pois não sabemos qual será o nosso destino. Desconhecemos em qual estação da história o Brasil irá desembarcar!
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