quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Passagem do Rei em Ipueiras




Era um dia de domingo, dia de trem vindo de Fortaleza para Crateús. A estação como de costume estava repleta de ipueirenses que antigamente tinham como lazer apreciar a passagem do trem.

Nesse dia o trem atrasara para a felicidade e sorte dos ipueirenses, que testemunharam a passagem de um Rei em nossa cidade.
E foi naquele dezenove de junho de 1966, que enquanto todos esperavam o trem, apontava na estrada que vem do Ipu, causando grande admiração, uma Rural Wills, coisa rara no interior.
Para surpresa dos que ali se encontravam desce da rural o já famoso Luis Gonzaga, nosso eterno Rei do Baião e seus tocadores.
Demonstrando fome, encosta na Banca de Dona Maria Capoeira e pede para que ela lhe prepare bastante orelha de porco, apelidando assim, um saboroso bolo de milho vendido pela cafezeira.

Depois da fome saciada em meio aos curiosos que se acotovelavam para vê-lo, puxou o dinheiro para pagar a conta, mas Zequinha Bento, que o reconhecera, já havia pagado a despesa. E pediu para o rei cantasse um pouco pois era seu fã.

A resposta do velho lua, foi que só cantaria se ele vendesse dez livretos, com o título de: “O Sanfoneiro do Riacho da Brígida” escrito pelo jornalista, Sinval Sá, contando a vida do famoso ícone nordestino.
Bento conseguiu vender somente cinco, mas o rei não se fez de rogado.
Subiu com seus companheiros num banco de madeira que havia na estação, arrastou a sanfona velha e cantou para delírio daquela platéia feliz, preciosidades de seu repertório

Antes de cantar o Gonzagão observou a platéia e se dirigiu a um dos componentes do conjunto em voz alta:---Toím, Tu já reparou que aqui de “nego” só eu e tu?

Infelizmente não presenciei esse importante acontecimento que ficou marcado em nossa história, apenas ouvi mais de uma vez os relatos de meu avô Gonçalo Ximenes Aragão que era chefe da estação ferroviária de Ipueiras, a famosa RVC que os gaiatos traduziam como:Rapariga Velha Cansada.

Além do meu avô, credito retalhos desse episódio a Tadeu Fontenele e Zequinha Bento personagens da mesma história.

Dalinha Catunda
Ipueiras-Ce

2 comentários:

Jean Kleber disse...

Grande participação, Dalinha. É isso aí. A estação de trem de Ipueiras tem história. Parabéns!

Verbos e Palavras disse...

Jean,
Não estamos sozinhos! Olha que notícia legal:
Domingo, dia 13 de janeiro, às 23h, através do DOCTV – Programa da Secretaria de Áudio Visual do Ministério da Cultura, Fundação Padre Anchieta/TV Cultura e Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (ABEPEC), com apoio da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), a TV Cultura apresentou o documentário “O trem passou e a gente ficou”. Nele foi reconstituída uma viagem imaginária de trem saindo de Bauru/SP que percorreu àquele ramal ferroviário até Panorama/SP, onde o fim da linha é à beira do Rio Paraná. Assisti o documentário e as lembranças de tudo que nele vi, aflorou a saudade de coisas vividas e que não voltam mais. Corte rápido. Volto ao documentário logo mais à frente. E de modo particular, nesta primeira quinzena do mês, outros dois acontecimentos dos quais participei também me remeteram a lembrança de um passado bom, sadio e que pelo avanço da tecnologia e modernidade está se extinguindo, sumindo aos poucos da lembrança do povo.
http://www.jornaldeitupeva.com.br/artigo.php?id=080123111133