segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Trem da memória

foto Mario De Biasi foto Mario De Biasi

Amigos,


Compartilho com vocês o poema de Nirton Venâncio:

"Trem da Memória" (apenas um fragmento). Sensibilidade na letra do poema revela que o trem além do concreto deixa marcas indeléveis na sensibilidade do artista.


Um abraço


Saulo



Tudo foi tão de repente

diante dos meus olhos

que não houve tempo

para retornar ao corpo do menino

que brincava na calçada.

A memória viaja

- trem inútil -

e não traz as roupas

que se vestia nas tardes de domingo

e a estrada some

deixando o mundo

como um grande circo

na praça da estação.


(do livro “Trem da memória – um poema


Fonte:


Com apito do trem a memória dos trilhos

Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1986
Há quase 40 anos que Edilberto Trevisan dedica suas horas de folga a reunir tudo o que se relaciona à história das ferrovias no Paraná. Paranaense das margens do Nhundiaquara, cresceu vendo os trens passarem pela estação de Morretes e a fascinação mágica do mundo da ferrovia o levaria, anos depois (1946) a ingressar na Rede Viação Paraná - Santa Catarina, da qual só se aposentaria há pouco mais de um ano.
Formando-se em Direito - turma de 1954 da Universidade Federal do Paraná - e integrando o departamento jurídico da Rede, mergulharia ainda mais nos ramais da história de nossos trilhos, fundindo-se assim o espontâneo interesse de pesquisador e historiador com a visão técnica do advogado e funcionário ferroviário.
xxx
Paralelamente à pesquisa de dados, fotos, material iconográfico, Edilberto Trevisan começou a se preocupar com a guarda de tudo aquilo que lembrasse o passado ferroviário. Desde as menores peças até a possível preservação mesmo de grandes máquinas e vagões que, ao serem desativadas, não deveriam ser simplesmente destruídas - ficando ao menos alguns exemplares para que as futuras gerações tivessem uma idéia dos pioneiros tempos dos caminhos de ferro no Sul do Brasil.
Sua dedicação e entusiasmo, vista algumas vezes como uma obsessão supérflua, encontrou, felizmente, apoio de algumas diretorias, de forma que após ele próprio ter sido, uma espécie de zeloso cão-de-guarda da memória ferroviária por quase duas décadas, pôde, finalmente ver criado o Museu Ferroviário, instalado no prédio da antiga Estação Ferroviária. Edilberto viu, assim, no momento em que o Museu foi implantado - e entregue a profissionais especializados na área - que cumpria-se ao menos uma primeira etapa de sua dedicação.
xxx
Mas havia muito mais a fazer. Entre outras necessidades, a de colocar em letra de forma, de forma didática e simples, ao menos um resumo da história de nossas ferrovias. A começar pela mais famosa delas - a ligação Paranaguá-Curitiba, cujo centenário de inauguração comemorou-se no ano passado. De seu bem organizado arquivo, com fotos preciosas de três mestres das imagens - de Marc Ferrez, que foi o fotógrafo oficial dos tempos de D. Pedro II; do grande pioneiro da fotografia no Paraná, Arthur Wischral e, por último, do contemporâneo Helmuth Wagner - reuniu-se um material precioso, de valor visual fascinante e que enriquecido com textos de Edilberto transforma-se agora no livro-álbum "O Apito do Trem".
Em forma de álbum, 130 páginas, editado graças ao interesse do presidente da RFFSA, engenheiro Osires Stenghel Guimarães, em resgatar, de todas as formas, a memória ferroviária não só do Paraná, mas em termos nacionais, "O Apito do Trem" está pronto e terá seu lançamento oficial nos próximos dias.
xxx
Modesto como todas as pessoas realmente talentosas e dedicadas, Edilberto Trevisan, 61 anos, diz que o livro deve ter seus créditos divididos entre Ferrez, Wischral e Wagner, autores das imagens. Marc Ferrez, fotógrafo a quem se deve tanto da memória visual brasileira, vem tendo sua obra resgatada e já por duas vezes a João Fortes Engenharia patrocinou álbuns com suas imagens do Rio de Janeiro do final do século XIX e primeiras décadas deste. A reedição de seu histórico álbum da inauguração da linha Paranaguá-Curitiba - uma raridade hoje, se constituía em acalentado projeto de Cassiana Lacerda Carolo, quando dirigiu o setor editorial da Secretaria da Cultura e Esportes. Infelizmente, apesar de ter feito inúmeras publicações, o álbum não foi reeditado e, naturalmente, com as nuvens negras da intolerância que caíram sobre a área cultural neste infeliz governo José Richa (mas que, como diz, Enock de Lima Pereira, acaba dentro de menos de 100 dias - pois não há mal que sempre dure), o Estado jamais iria se preocupar em sua recuperação.
xxx
Depois de "O Apito do Trem", no qual Edilberto Trevisan historia desde os primitivos meios de transporte, em 1853, até a inauguração dos primeiros trechos ferroviários entre Paranaguá-Curitiba, ele tem outros projetos que, espera, possam ser realizados: as histórias das ligações ferroviárias entre Antonina-Morretes (1892), dos ramais Curitiba-Rio Negro (1891) e Curitiba-Ponta Grossa (1894). As demais ligaçoes ferroviárias no Paraná - especialmente no Norte do Estado, desenvolvidas a partir dos anos 20/30 e com extensões ferroviárias do Estado de São Paulo ficam para futuros historiadores. Modesto, responsável em suas pesquisas, Edilberto diz:
- "Temos que estabelecer parâmetros de pesquisas e fazê-las bem feito. Trabalhando sozinho, sei até onde posso ir em meus estudos. Não vou avançar os trilhos, mas em compensação naqueles em que caminhar meus estudos estão seguros e certos nas informações".
xxx
No ano passado, dentro dos eventos comemorativos do centenário da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, a RVPSC já havia editado "Uma Viagem Pelos Trilhos da Memória" (140 páginas). Organizada por Adélia Maria Woellner e Greta Mendry Ferreira, o volume reuniu depoimentos, trechos de relatórios, textos avulsos, transcrições de documentos etc. - com dezenas de ilustrações. Válido como informação - mas sem a unidade e estilo desejável de uma obra, valeu, de qualquer forma pelo esforço e, sobretudo, mostrou o apoio da diretoria da RVPSC em documentar a efeméride. Agora, entretanto, com o álbum "O Apito do Trem", temos a obra marcante e referencial do documentário de uma das maiores obras de engenharia ferroviária do mundo - visitada anualmente por milhões de pessoas vindas de todas as partes.

Fonte:

http://www.millarch.org/artigo/com-apito-do-trem-memoria-dos-trilhos

Com apito do trem a memória dos trilhos

Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1986
Há quase 40 anos que Edilberto Trevisan dedica suas horas de folga a reunir tudo o que se relaciona à história das ferrovias no Paraná. Paranaense das margens do Nhundiaquara, cresceu vendo os trens passarem pela estação de Morretes e a fascinação mágica do mundo da ferrovia o levaria, anos depois (1946) a ingressar na Rede Viação Paraná - Santa Catarina, da qual só se aposentaria há pouco mais de um ano.
Formando-se em Direito - turma de 1954 da Universidade Federal do Paraná - e integrando o departamento jurídico da Rede, mergulharia ainda mais nos ramais da história de nossos trilhos, fundindo-se assim o espontâneo interesse de pesquisador e historiador com a visão técnica do advogado e funcionário ferroviário.
xxx
Paralelamente à pesquisa de dados, fotos, material iconográfico, Edilberto Trevisan começou a se preocupar com a guarda de tudo aquilo que lembrasse o passado ferroviário. Desde as menores peças até a possível preservação mesmo de grandes máquinas e vagões que, ao serem desativadas, não deveriam ser simplesmente destruídas - ficando ao menos alguns exemplares para que as futuras gerações tivessem uma idéia dos pioneiros tempos dos caminhos de ferro no Sul do Brasil.
Sua dedicação e entusiasmo, vista algumas vezes como uma obsessão supérflua, encontrou, felizmente, apoio de algumas diretorias, de forma que após ele próprio ter sido, uma espécie de zeloso cão-de-guarda da memória ferroviária por quase duas décadas, pôde, finalmente ver criado o Museu Ferroviário, instalado no prédio da antiga Estação Ferroviária. Edilberto viu, assim, no momento em que o Museu foi implantado - e entregue a profissionais especializados na área - que cumpria-se ao menos uma primeira etapa de sua dedicação.
xxx
Mas havia muito mais a fazer. Entre outras necessidades, a de colocar em letra de forma, de forma didática e simples, ao menos um resumo da história de nossas ferrovias. A começar pela mais famosa delas - a ligação Paranaguá-Curitiba, cujo centenário de inauguração comemorou-se no ano passado. De seu bem organizado arquivo, com fotos preciosas de três mestres das imagens - de Marc Ferrez, que foi o fotógrafo oficial dos tempos de D. Pedro II; do grande pioneiro da fotografia no Paraná, Arthur Wischral e, por último, do contemporâneo Helmuth Wagner - reuniu-se um material precioso, de valor visual fascinante e que enriquecido com textos de Edilberto transforma-se agora no livro-álbum "O Apito do Trem".
Em forma de álbum, 130 páginas, editado graças ao interesse do presidente da RFFSA, engenheiro Osires Stenghel Guimarães, em resgatar, de todas as formas, a memória ferroviária não só do Paraná, mas em termos nacionais, "O Apito do Trem" está pronto e terá seu lançamento oficial nos próximos dias.
xxx
Modesto como todas as pessoas realmente talentosas e dedicadas, Edilberto Trevisan, 61 anos, diz que o livro deve ter seus créditos divididos entre Ferrez, Wischral e Wagner, autores das imagens. Marc Ferrez, fotógrafo a quem se deve tanto da memória visual brasileira, vem tendo sua obra resgatada e já por duas vezes a João Fortes Engenharia patrocinou álbuns com suas imagens do Rio de Janeiro do final do século XIX e primeiras décadas deste. A reedição de seu histórico álbum da inauguração da linha Paranaguá-Curitiba - uma raridade hoje, se constituía em acalentado projeto de Cassiana Lacerda Carolo, quando dirigiu o setor editorial da Secretaria da Cultura e Esportes. Infelizmente, apesar de ter feito inúmeras publicações, o álbum não foi reeditado e, naturalmente, com as nuvens negras da intolerância que caíram sobre a área cultural neste infeliz governo José Richa (mas que, como diz, Enock de Lima Pereira, acaba dentro de menos de 100 dias - pois não há mal que sempre dure), o Estado jamais iria se preocupar em sua recuperação.
xxx
Depois de "O Apito do Trem", no qual Edilberto Trevisan historia desde os primitivos meios de transporte, em 1853, até a inauguração dos primeiros trechos ferroviários entre Paranaguá-Curitiba, ele tem outros projetos que, espera, possam ser realizados: as histórias das ligações ferroviárias entre Antonina-Morretes (1892), dos ramais Curitiba-Rio Negro (1891) e Curitiba-Ponta Grossa (1894). As demais ligaçoes ferroviárias no Paraná - especialmente no Norte do Estado, desenvolvidas a partir dos anos 20/30 e com extensões ferroviárias do Estado de São Paulo ficam para futuros historiadores. Modesto, responsável em suas pesquisas, Edilberto diz:
- "Temos que estabelecer parâmetros de pesquisas e fazê-las bem feito. Trabalhando sozinho, sei até onde posso ir em meus estudos. Não vou avançar os trilhos, mas em compensação naqueles em que caminhar meus estudos estão seguros e certos nas informações".
xxx
No ano passado, dentro dos eventos comemorativos do centenário da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, a RVPSC já havia editado "Uma Viagem Pelos Trilhos da Memória" (140 páginas). Organizada por Adélia Maria Woellner e Greta Mendry Ferreira, o volume reuniu depoimentos, trechos de relatórios, textos avulsos, transcrições de documentos etc. - com dezenas de ilustrações. Válido como informação - mas sem a unidade e estilo desejável de uma obra, valeu, de qualquer forma pelo esforço e, sobretudo, mostrou o apoio da diretoria da RVPSC em documentar a efeméride. Agora, entretanto, com o álbum "O Apito do Trem", temos a obra marcante e referencial do documentário de uma das maiores obras de engenharia ferroviária do mundo - visitada anualmente por milhões de pessoas vindas de todas as partes.

Fonte:

http://www.millarch.org/artigo/com-apito-do-trem-memoria-dos-trilhos